Wednesday, June 20, 2007

A ilha da mídia


Reflexão sobre o filme A Ilha

1. Qual o papel do comunicador social como "construtor" de "ilhas" na sociedade atual. Como a organização da linguagem direciona o comportamento das pessoas (opiniões, discursos, interesses e consumo).

Moradores de um lugar utópico acreditam ser os únicos sobreviventes, após uma terrível contaminação que houve na Terra. Apenas um território, a ilha, é o único lugar descontaminado do planeta. O grande sonho desses supostos sobreviventes é serem sorteados, poder morar na ilha e viver felizes para sempre. Desde que chegam a nova casa, os sobreviventes são iludidos com essa história de morar na ilha, não sabe que na verdade irão para uma sala de cirurgia, quando sair dali, pois não passam de clones,cópias cujos órgãos serão doados para garantir a sobrevivência do seu “original”.


Não moramos em um lugar utópico como o do filme, mas desejamos conhecer ou ter ilhas. Esse desejo não nasce de uma hora para outra e de nós mesmos, mas sim de idéias, sugestões oferecidas pela mídia, movida pelo desejo capitalista de fazer as pessoas consumirem cada vez mais e acreditarem no que ela diz. As pessoas, vivem preocupadas com o status, em comprar os produtos oferecidos de uma forma fascinante pela publicidade. É incrível o poder que a mídia tem de formar ilhas no pensamento das pessoas. Para isso utiliza vários artifícios que podem agir sobre o comportamento. Ofertam o paraíso e a ascensão social de maneira contínua e intensa, fazendo o indivíduo acreditar que pode aceitar tal oferta e alcançar aquilo que passou a desejar apenas porque foi apresentado ou valorizado pela mídia.


O principal mecanismo psicológico utilizado pelos comunicadores sociais é o da persuasão, uma tentativa de convencimento que ultrapassam ou não as alicerce racionais da transmissão de uma mensagem. Quando é utilizado apenas os alicerces racionais para alcançar o receptor da mensagem, procura-se atingir o plano de sua consciência para que ele possa verificar se a informação disponível é ou não importante para ele. Utilizam-se nesse caso informações objetivas que possa garantir a sua veracidade, como acontece, por exemplo, nos telejornais. No entanto também é utilizado os recursos de alicerces irracionais, de fundo emotivo, para persuadir o receptor da mensagem mais pelo campo da subjetividade do que pelo da objetividade da informação, (responsável pela massificação da subjetividade), esse recurso é muito aproveitado pela publicidade que utiliza a técnica de associar valores sociais ao produto anunciado.


A organização da linguagem direciona o comportamento das pessoas, forma opiniões, desenvolve interesses, influencia no consumo, direciona em seus discursos. Mas como? Oferecendo um objeto de desejo imaginário que se concretiza no produto anunciado? A artimanha utilizada para persuadir trabalha não só com a criação de desejos ou sofisticação, mas também com a construção lingüística da mensagem, utilizando conteúdos ideacionais e crenças que procuram alterar o campo cognitivo das pessoas.
No filme, um jovem pede um canudo para tomar o refrigerante, em seguida seu amigo pergunta se ele namora com canudinho e compara a garrafa de coca-cola com uma garota, sua criação lingüística influenciou o jovem a desistir de tomar o refrigerante com canudinho. Essa cena leva a uma reflexão sobre o papel do comunicador social como construtor de ilhas, ou de atitudes. Muitas pessoas são vulneráveis as sugestões da mídia, a vêem como referencia. Mesmo não tendo controle absoluto de nossa subjetividade, a mídia possui a capacidade de determinar certas atitudes ou opiniões através de um processo de convencimento que usa a linguagem como principal instrumento.


Acredito que a ilha não a da ficção, mas a do mundo real seria um conglomerado de consumidores altamente compulsivos e insatisfeitos, querendo cada vez mais, pois o consumo nem sempre proporciona alegria por um longo período. Daí vem a questão do pós-consumo. Será que aquele produto proporcionou o prazer que o consumidor pensou que iria ter? A publicidade sempre apresenta um mundo perfeito associado ao produto e procura produzir uma verossimilhança com a realidade para que as pessoas não se distanciem desse mundo apresentado e que pode ser alcançado. É nesse momento que um novo desejo de consumo nasce, que uma nova ilha é formada.

A vida e os ideais


Arte, política e estética em “The Interpret”


O filme A interprete, conta a historia da poliglota Silva Broom (Nicole Kidman), uma interprete das nações unidas que após ouvir uma ameaça de atentado durante a Assembléia das Nações Unidas contra um presidente de Motumbo, tem sua vida completamente transformada. Passa a receber proteção de um agente federal Tobin Keller (Sean Penn) que desconfiado dela tenta descobrir seu passado e à medida que vai fazendo suas descobertas, aumentam sua suspeita de que a intérprete esteja envolvida na conspiração. A produção do filme, que aborda temas como globalização, terrorismo, diplomacia, perigos da má interpretação e a ONU, teve acesso total a quase todo o prédio das Nações Unidas por quase cinco meses, com a única restrição de que as filmagens fossem realizadas após o expediente e nos fins de semana.


A cena inicial do filme mostra um território abandonado, totalmente entregue ao descaso, onde uma criança em um campo de futebol mata dois personagens do filme onde um deles seria o irmão da protagonista. A cena termina mostrando uma transformação artística e bastante semiotizada de uma bola esquecida no canto da trave feita de pano e contornada de redes e umas manchas vermelhas como sangue, que após se transformar em um globo terrestre , inicia-se a cena da sede da ONU, onde de ouve várias vozes, em diversos idiomas.


A bola esquecida, no canto da trave em um campo de futebol proporcionou um momento de reflexão ao filme, revelou prazer de ser criança esquecido. As redes da bola, seria a prisão que impede os seres humanos de serem pessoas melhores e mais felizes. As manchas vermelhas, o sangue inocente derramado e as marcas da violência. O globo terrestre, a representação do mundo com todos esses problemas. A sede da ONU, uma saída para a promoção da paz e de melhores condições de vida para as pessoas. O Sonho de um futuro melhor para a humanidade.


O contraste gritante entre a cidade de Nova York e um território africano, mostrado na cena inicial do filme deixa claro as diferenças que há entre paises desenvolvidos e subdesenvolvidos. O descaso das autoridades, e os efeitos negativos da era pós-moderna/globalização que transforma pessoas em seres pouco afetuosos e extremamente apáticos às situações deploráveis que envolvem pessoas a quem não possuem vínculo algum. Até mesmo a ingenuidade das crianças são afetadas, e transformadas, (Como retrata uma das cenas do filme), fazendo-as agirem como pessoas cruéis e impiedosas capazes de tirarem a vida de outras pessoas, sem demonstrarem nenhum remorso por isso. Não obstante, o trabalho realizado na sede da ONU, o objetivo de promover a paz mundial é um outro lado mostrado no filme. Revela a estética da diplomacia, da habilidade no trato com as pessoas, da polidez dos diplomatas e do respeito.


A arte é a manifestação plena do espírito, da inteligência, da racionalidade codificada, da visão individual de mundo. É capacidade de compreender o mundo biótico e abiótico, o que é concreto e o que abstrato, a simplicidade e a complexidade, o ódio e o amor. É a sublimação do ser humano atingindo o clímax do que se pode denominar expressão do sentimento, fruição ou ainda manifestação de seus anseios ocultos, misteriosos ou revelação do eu, do pensamento ou da emoção, da sensibilidade diante do tudo ou do nada. A arte é um caminho abstrato por onde os sentimentos passeiam ou correm. Passeiam quando se esta inebriada de emoção, numa instigante busca pela mais bela expressão daquilo que almeja, e correm quando se está saturado de razão, tentando da maneira mais pratica possível desvendar e compreender o que há de mais complexo no mundo real, buscando entender não só o mundo material em si, mas também mundo das idéias.


Com certeza há nos sonhos das Organizações das Nações Unidas, uma boa quantidade dessa arte, capaz de embelezar ainda mais esse sonho e estetizar a paz e não a guerra, através de uma política mais segura e digna. A arte está em tudo e em todos. Não se pode estranhar o conceito de política como a arte de governar bem e com sabedoria. Ela estabelece ao homem enquanto ser social, um sistema de organização que elabora as melhores estratégias possíveis para uma maior qualidade de sobrevivência social, mas que infelizmente não é garantida para todos, devido a uma serie de falhas administrativas que se encontra em suas organizações.
Há um confronto entre o homem e o seu destino. A interprete possuía um passado que apesar de não criminoso, a prejudicou, por causa das suspeitas que o agente começou a ter dela no atentado, após descobrir o que ela omitia. Seu sonho sempre foi trabalhar na ONU. Um ideal ou um interesse em particular? Suas escolhas fizeram de seu destino um pesadelo por algum tempo, até que a verdade fosse desvendada.


A política percebe que o homem além de ser social é também um ser individual (indivíduo) e, independente das leis que lhe são impostas e que são cumpridas ou não, possui uma autonomia e liberdade para traçar seu feliz ou triste destino, podendo ou não afetar os demais membros da sociedade por causa de suas escolhas. Por esse motivo, além de outros, é que a política na estética de suas ideologias sabe que é incapaz de garantir a estabilidade social, a preservação da paz individual e a plena organização da vida igualitária e coletiva. Pois o homem não controla na maioria das vezes, seus estímulos para a violência bélica e não procura eliminar de suas relações sociais, suas revoltas e seus ressentimentos, que na realidade só se diz respeito a sua própria individualidade, mas que por sentir a necessidade de se expressar e por possuir liberdade de expressão acaba transformando em coletivo um ideal que aparentemente seria apenas seu. Mas que também outras pessoas possuem de maneira semelhante e também o compartilha. Um exemplo de compartilhamento de idéias semelhantes presente no filme são as manifestações da população durante a visita do presidente de Mutombo.


A interprete tinha um ideal, construído ao longo de sua vida e no final ela percebeu que matar Zouany seria uma escolha errada e que afetaria suas ideologias, felizmente ela percebera isso a tempo, com a ajuda do agente virou seu amigo. A estética das ideologias é bem visível no filme, os sonhos, a frase do presidente no inicio do livro que ele escreveu e que significava muito para a protagonista, até mais do que para ele mesmo que havia escrito os objetivos da ONU de promover relações de paz (diplomáticas) entre os paises. No filme há também uma representação de uma estética da guerra que nada mais é do que um ideal construído com utopias e a esperança de uma nova sociedade, de novos homens, de novos sistemas de organização. Mas que nem mesmo por isso torna a guerra bela, como algumas pessoas de maneira inacreditável sempre insistiram em acreditar.